quinta-feira, 10 de julho de 2008

Sobre a Morte


Este texto está amparado no livro Morte de JÜNGEL, Eberhard, São Leopoldo: Sinodal. 1980. p. 42-94.


O MISTÉRIO DA MORTE – a morte do pecador – A Bíblia não esconde o horror da morte, inclusive ela é o salário do pecado. Contudo o conceito de morte não é comum a toda Bíblia, não há unanimidade. A morte de Jesus Cristo no relato neotestamentário desencadeia uma compreensão diferente de morte daquela apresentada no relato véterotestamentário. Mas esse fato também é sinônimo de profunda unidade entre os relatos, pois em Cristo acontece algo com a própria morte.

a morte no AT – o homem hebreu via na morte a ameaça a vida. Mas a morte só ganha espaço quando o assunto é vida, pois a vida é dom supremo de Deus. Deus é o doador da vida, a fonte da vida (Sl 36.10). Deus é quem determina o tempo de vida, ou seja, a vida como dádiva não é propriedade do vivente. Isso não é uma deficiência antropológica, é simplesmente o fato de que o homem, subtraído de si mesmo, não pode relacionar-se consigo mesmo sem já sempre estar relacionado com Deus. Os israelitas ao longo da história desenvolveram a certeza de que a morte podia ser superada a partir da relação com Deus. Porém se tem clareza que a morte é o destino de todos, e no AT, os mostos não descem somente a sepultura, eles também vão ao sheol, uma região que fica embaixo, onde o morto permanece nessa condição até mesmo na eternidade (Jó 14.12). Israel não encara a morte como sendo um poder ilimitado, pois ela está subordinada ao poder de Deus. A morte é estranha a Deus, os mortos não louvam a Deus, por isso a aceitação da finitude do homem conduz a fé de Israel à estimação da vida. Viver no AT é ter um relacionamento, e tudo o que atrapalha essa relação é tido como pecado, onde a morte é o resultado final dessa tendência ao não relacionamento.

a morte no NT – enquanto a esperança da ressurreição dos mortos aparece apenas na margem do AT, no NT é largamente difundida, baseando-se na certeza de que Deus triunfou sobre a morte. Jesus Cristo é a prova disso, tanto que depois da sepultura vazia, morte e vida ganham uma nova relação, determinada por Cristo, que é Senhor dos vivos e dos mortos. Contudo, a vida ainda é mais valorizada e a morte não deixa de ser a visibilidade do pecado (Rahner).

A MORTE DE JESUS CRISTO – a morte de Jesus, a paixão de Deus – até que ponto a morte de Jesus Cristo determinou a vida dos cristãos? Mesmo o NT não tem universidade em relação a isso, mas pode-se dizer que para Paulo a morte de Cristo é a obra da salvação em si. Jesus pregava o reino de Deus e após a Páscoa passou a ser o conteúdo da pregação. Por que? Porque a fé pascal enxerga em Jesus o Deus encarnado, ou melhor, a vida de Deus se identificando com a morte de Jesus. Isso quer dizer que Deus não morreu, apenas identificou-se com a morte de Jesus? Talvez a resposta seja sim, contudo o fato de Deus ter tomado essa atitude de identificar-se com a morte faz com que o não-relacionamento gerado pela morte torne-se em novo relacionamento de Deus com os homens. Esse novo relacionamento consiste em Deus suportar pessoalmente o não-relacionamento que dele alheia os homens. Quando os relacionamentos quebram é aí que Deus entra em ação.

A MORTE DA MORTE – a morte como perpetuação da vida vivida – a morte de Cristo é a morte da morte. Aquele que crê em Cristo ainda que morra viverá, como Cristo triunfou sobre a morte, fará também triunfar seus fieis. A vida finita é eternizada na qualidade de vida finita. Isso não significa imortalidade da alma, mas que se terá participação na própria vida de Deus. Disse um dos Pais da Igreja: o homem como tal não tem além, e nem tem necessidade dele, pois Deus é o seu além.

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